Imagen de J.Michel Folon
NA ILHA POR VEZES HABITADA
Na ilha por vezes habitada do que somos, há
noites, manhãs e madrugadas em que não
precissamos de morrer.
Então sabemos tudo do que foi e será.
O mundo parece explicado definitivamente e
entra em nós uma grande serenidade, e
dizem-se as palavras que a significam.
Levantamos um punhado de terra e apertamol-la
nas mãos. Com doçura.
Aí se contém toda a verdade suportável: o
contorno, a vontade e os limites.
Podemos então dizer que que somos livres, com a
paz e o sorriso de quem se reconhece e viajou
à roda do mundo infatigável, porque mordeu a
alma até aos ossos dela.
Livertemos devagar a terra onde acontecem
milagres como a água, a pedra e a raíz.
Cada um de nós é por enquanto a vida.
Isso nos baste
José Saramago
Provavelmente alegria (1995)
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